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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Demonstrar +



Gestos Valiosos como gentilezas, elogios sinceros e dedicação criam lógicas específicas no psiquísmo.



Por Christian Ingo Lenz Dunker, Psicanalista e professor da USP.



Lacan denominou de dialética do dom o processo pelo qual a criança apreende como o ato de doação impõe-se em sua força e determinação, tanto ao objeto que é doado quanto ao agente e ao destinatário. É uma grande conquista quando a criança é capaz de oferecer uma flor caída ou um rabisco qualquer como prova de amor ou prova de gratidão. Esta espécie de devolução, uma contrapartida amorosa ao trabalho antes empenhado. Este ato mostra sua estrutura dialética, pois inverte a posição inicial de passividade da crinça; substitui o valor funcional dos objetos pelo “não valor” contingente dos signos devolutivos e repara ou reconstitui frustrações e privações inerentes à relação de cuidado.



Ao caráter altamente simbólico do dom e seu potencial de moldagem de nosso imaginário amoroso acrescente-se que no dom há algo de real irredutível à lógica das trocas.



É esse “a mais”, que não custa nada e muda tudo, não só porque cria algo novo e diferente, mas também porque engendra um novo tipo de satisfação. Como dizia Machado de Assis : ” a gratidão de quem recebe um benefício é bem menor do que o prazer de quem o faz”. O dom cria uma obrigação que não é uma necessidade compulsória, ou seja, a “obrigação” de “livremente” retribuir. Dai que em português dizemos “obrigado”! para nos referir a atos que são “não obrigatórios”.







Também nos relacionamentos familiares e amorosos esperamos ‘algo a mais” do que o desenvolvimento de objetivos recíprocos. Ou seja, induzir esse plus que não custa nada, pode tornar-se a condição que prova que esse membro da família não é apenas mais um. E sim, que ele faz a diferença, por ser como é, e pelo que faz, que soma.

*Encerrando Ciclos..*..



Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final…

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu….

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.



Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.


Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora…

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.


Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.



Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.



Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”.

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa – nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.



Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..



E lembra-te:

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.



Fernando Pessoa